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BILLBOARD: “COMO DUA LIPA TROUXE O MUNDO PARA A PISTA DE DANÇA - A MEIO DE UMA PANDEMIA”


Com “Future Nostalgia”, o dínamo da música pop re-imaginou como a campanha de um álbum poderia ser – tudo apenas parte de seu plano para “dominação global”.


Em junho, Dua Lipa viu-se numa posição muito estranha: num Airbnb em Londres entre uma série de mensagens com alguns dos seus ídolos musicais. Foi uma primavera agitada, para dizer o mínimo. O seu apartamento na cidade tinha inundado, então ela mudou-se para um aluguer temporário. O seu segundo álbum, “Future Nostalgia”, vazou, forçando-a a antecipar a data de lançamento uma semana. E a pandemia do coronavírus ameaçava abalar não apenas sua vida, mas também os meses de trabalho e planeamento que ela tinha agendados. Por isso podem imaginar como ela se sentiu quando Madonna e Missy Elliott começaram a encher o seu telemóvel com mensagens.


Lipa, 25, fez o convite para juntarem-se numa nova versão mais acelerada da sua música “Levitating” para uma edição de remixes do “Future Nostalgia” que ela estava a planear – e logo a seguir os ícones enviaram os seus vocais sem edição. “Eu tive definitivamente aqueles momentos em que me perguntei ‘O que é que eu digo? O que é que devo de responder?’”, lembra-se, sem fôlego, durante uma chamada Zoom à noite, enquanto Lipa mímica que está a escrever uma mensagem. Estamos a meio de novembro e Lipa, que está vestida com uma sweatshirt rosa choque, está a poucos dias de descobrir que recebeu seis nomeações ao Grammy – incluindo distinções em álbum, composição e música do ano – e está prestes a estrear a sua performance online, Studio 2054. (Ela começa a nossa conversa por avisar que ainda está muito suada dos ensaios.) “Eu ainda sinto aquela empolgação ingénua ao trabalhar com os meus ídolos”, diz. “E acho que é apenas uma das coisas pelas quais eu estou tão grato: a forma como o álbum foi recebido é a razão pela qual esta porta foi aberta.”


O “Future Nostalgia”, lançado no final de março, fez mais do que abrir algumas portas. Ele catapultou a homenageada com o Powerhouse, nos prémios Women In Music da Billboard deste ano, para um novo nível de estrelato global – e consolidou-a como uma Artista com A grande, com uma visão e poder de perseverança. O seu eclético álbum de estreia em 2017, “Dua Lipa”, já a tinha tornado numa das promissoras revelações da pop, graças à sua voz aguda e os sucessos atrevidos como “New Rules”, cujo vídeo foi visto mais de 2 bilhões de vezes no YouTube. Mas depois de vencer o Grammy de Melhor Artista Revelação no Grammy, Lipa estava determinada a não jogar pelo seguro. Enquanto os seus colegas tiravam notas do hip-hop e música alternativa, ela decidiu canalizar os sons das pistas de dança dos anos 70 e 80 em canções como o single “Don’t Start Now”, um hino de separação com um groove indestrutível que deixou até a sua própria equipa nervosa. “Eu não estava convencido de que fosse o primeiro single certo”, disse o seu empresário, Ben Mawson, cofundador e um dos diretores executivos da TaP Music, cuja lista de agenciados inclui também Lana Del Rey e Ellie Goulding. “Eu estava preocupado que ‘Don't Start Now’ fosse muito Euro-disco e não funcionasse nas rádios dos EUA. E o Mike Chester, [vice-presidente executivo] da Warner Records, disse: ‘Não te preocupes: a razão pela qual eu amo a música é que ela é diferente e vai mudar as rádios dos EUA’”. Ele tinha razão. A música deu início a um renascimento da música pop dance nos charts e ganhou-lhe uma nova fã que viria a ser uma futura colaboradora: “Depois de a ouvir na rádio algumas vezes, tive que procurar mais músicas dela, e eu achei que ela tinha uma vibe!”, diz Missy Elliott. “É um som que eu cresci a ouvir, e ela misturou-o com um som 'milenar' que é revigorante.” Graças ao seu gancho desafiador e à facilidade de Lipa em parecer fixe, a música foi igualmente popular entre os jovens do TikTok (onde se deu início ao meme #full180) e os seus pais, com quem eles viajam no carro e onde ouvem as rádios pop. (Ela liderou o Top 40 dos charts Mainstream durante seis semanas.) E apesar de "Don't Start Now" ter alcançado a posição número 2 na Billboard Hot 100, a música permaneceu tanto tempo no Top 10 do chart que Lipa tornou-se na maior artista feminina de 2020, de acordo com a Nielsen Music e a MRC Data. Com letras como “Não me apareças à frente, não saias à rua” e “Eu devia ter ficado em casa”, o “Future Nostalgia” tornou-se acidentalmente na banda-sonora da quarentena, mesmo que os bares não estivessem abertos para tocar as suas músicas. Mas trazer um pouco de luz aos seus ouvintes em alturas difíceis tem sido sempre o objetivo de Lipa. A estética do álbum foi fortemente influenciada pelas músicas joviais que os seus pais tocavam em casa quando ela era mais nova, como Jamiroquai, Blondie e Prince. Lipa apaixonou-se também pelos arranjos ao vivo do seu primeiro álbum e queria capturar um pouco do calor e da força dos seus concertos. “No meu primeiro álbum, eu estava constantemente a descrevê-lo como 'dark pop'”, diz ela. “Até que cheguei a um ponto, onde era difícil para mim escrever músicas a menos que fossem sobre algo triste. Eu sentia que as músicas mais alegres resultavam em algo foleiro. Eu queria afastar-me dessa ideia e dizer, ‘Não! Eu posso fazer algo que esteja orgulhosa e que ainda reflita um sentimento feliz e exultante’”. (Com isto dito, Lipa fez, na verdade, hinos de empoderamento para o “Future Nostalgia”: a faixa midtempo, “Boys Will Be Boys”, onde ele referencia o facto de volta para casa com as suas chaves entre os dedos para a protegerem de potencias predadores.) O timing do “Future Nostalgia” significou que Lipa fosse um caso a testar sobre a divulgação de álbuns durante a pandemia, onde ela se viu obrigada a pregar telas verdes nas paredes das várias divisões da sua casa e filmar apresentações encantadoras e íntimas para os programas de televisão de horário noturno. Mas, por mais impressionante que fosse o conteúdo, o veio que depois também era. Num ano, onde a noção coletiva de tempo foi distorcida, Lipa manteve-se firme sobre o zeitgeist, fazendo o formato original do seu álbum material para outras reinterpretações. Quando a sua tour – que devia ter começado na primavera – foi adiada, ela recrutou a DJ e produtora The Blessed Madonna para idealizar um álbum de remixes cheio de convidados especiais, o “Club Future Nostalgia”. Então, ela publicou o material no YouTube num videoclipe contínuo com 52 minutos de duração. Uma vez que não era possível gravar videoclipes, ela encomendou vários vídeos animados para acompanharem o álbum. Mais tarde, conforme as restrições diminuíram, ela recrutou DaBaby para uma versão ainda mais alegre de “Levitating”, que alcançou o top 20 da Billboard Hot 100 com a ajuda de um vídeo iluminado por neons feito em parceria com o TikTok. “Não acho que o ciclo de um álbum deva acabar assim que ela é lançado”, diz Lipa, que já revelou que tem na manga uma segunda versão do “Future Nostalgia” que chegará em 2021. “É verdade que as pessoas podem ouvir, mas tu ainda podes criar um universo divertido ao redor do álbum.” Para muitas estrelas pop, lançar um álbum parece-se com o final de uma maratona. O álbum de estreia de Lipa parecia-se muito com isso: na altura em que chegou até nós em junho de 2017, ela já havia atrasado o álbum duas vez e lançado meia dúzia de singles. Até que em julho, ela acertou em cheio com “New Rules”, cujo vídeo em tons pastéis e a sua coreografia tornaram-na numa sensação viral, alimentando a campanha promocional do seu álbum. Ela lançou mais alguns singles do álbum, colaborou com Calvin Harris e Silk City, e terminou a era em 2018 com “Dua Lipa: Complete Edition”, um relançamento de luxo com mais faixas e extras do que no LP original. Toda a experiência a ensinou a pensar na duração de uma era de forma diferente. Agora, Lipa diz com um sorriso irônico: “Nós adoramos extrair o máximo possível da situação”. Antes mesmo da primeira edição de “Future Nostalgia” ser lançado, Lipa já estava a planear quais seriam os seus próximos passos. Enquanto gravava o álbum, ela escreveu uma música chamada “Fever” mas achou que a sua batida tropical e ágil não combinava com as outras faixas, por isso ela decidiu guardar para mais tarde. Em outubro, ela lançou a música como um dueto bilingue com a cantora belga Angèle, uma estrela no seu país de origem e na França, mas amplamente desconhecido noutros países. Lipa não é estranha nenhuma a colaborações com superestrelas – ela recentemente juntou forças com Miley Cyrus para a faixa glam rock “Prisoner” – mas ela faz escolhas inesperadas com alguma frequência que favorecem descobertas interculturais. Em março, ela lançou um remix do sucesso “Physical” com a cantora sul-coreana Hwa Sa, mais tarde, em agosto ela alcançou o seu primeiro #1 no chart da Hot Latin Songs como vocalista em "Un Dia (One Day)", numa equipa só de estrelas, com J Balvin, Bad Bunny e Tainy que lhe rendeu uma nomeação ao Grammy de Melhor Performance Pop por um Grupo/Duo. “Eu não sinto que as colaborações tenham que ser sempre feitas com pessoas que já estão no topo e são bem-sucedidas ao redor do mundo”, diz. “É bom reunirmo-nos e abrirmo-nos a um novo público. Isso torna o meu ainda mais emocionante.” A perspetiva global de Lipa é parcialmente o produto da sua educação. Filha de pais albaneses-kosovar, ela nasceu e cresceu na Inglaterra e viveu durante alguns anos em Pristina (Kosovo), antes de mudar-se de volta para Londres, mas desta vez sozinha aos 15 anos, para perseguir o seu sonho de cantar. Lipa começou por publicar covers no YouTube e fazer networking com produtores nas redes sociais, e ela também dá credito aos seus fãs no Twitter por apresentá-la a artistas como Blackpink, – o grupo feminino de K-pop que ela mais tarde colaborou no “Dua Lipa: Complete Edition” – e por a ajudarem a identificar potenciais mercados para atuar. Os seus artistas favoritos nunca atuaram no Kosovo, e ela jurou não negligenciar os seus fãs nas suas tours. Para promover o álbum “Dua Lipa”, ela deu alguns concertos na América do Sul e fez várias viagens até à Ásia – regiões que alguns artistas pop negligenciam até mais à frente nas suas carreiras. “Eu sempre disse na brincadeira, mas secretamente, eu queria muito isso. Eu estou no meu caminho para a dominação mundial, para isso tenho que estar em todo o lado ao mesmo tempo” diz ela, enquanto sacode as mãos. Este ano, em particular, ela provou que as responsabilidades do seu estrelato global vão para além da música em si. Especialmente no Instagram, onde ela fala sobre questões com as quais se preocupa: o movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos, a explosão mortal em Beirute no mês de agosto, direitos da comunidade LGBTQ ao redor do mundo. (Às vezes, graças a esse instinto, ela acaba por se meter em apuros – como quando fez uma publicação destinada a celebrar a identidade albanesa e kosovar e, como ela disse num um follow-up, foi "mal interpretada por [alguns] que promovem o separatismo étnico, que eu rejeito completamente.") “Por causa dos meus pais e de sua formação, eu sinto que sempre fui bastante franca”, diz ela. “Muitas vezes isso vira-se contra mim e as pessoas simplesmente perguntam ‘Ok. Mas tu és uma cantora, o que é que sabes?’ Mas acho que isso é apenas uma compreensão de como o mundo está a ficar pequeno, e como o que acontece na América afetará o Reino Unido, e afetará o resto do mundo.” Pensar internacionalmente também é um princípio fundador da TaP, que tem escritórios em Londres, Los Angeles, Berlim, Sydney e (muito em breve) Paris. A empresa, que também tem divisões de gravação e publicação, muitas vezes contrata os seus artistas para diferentes grupos de gravadoras em diferentes territórios, em vez de garantir acordos globais. Lipa assinou contrato com a Warner Music Group na maioria dos lugares e com a Universal Music Group na Alemanha, Áustria e Suíça. “Temos muita sorte de eles trabalharem bem juntos – não é preciso de dizer para pararem de ser maus uns com os outros”, diz Mawson. É uma abordagem que garante que os artistas da TaP obtenham o melhor apoio nos principais mercados que têm as suas próprias maneiras de fazer negócios. (Também tem a vantagem de tornar mais fácil recuperar avanços separados.) “Olhamos para os territórios [onde somos] fracos e colocamos o foco neles”, acrescenta Mawson, “porque o verdadeiro sucesso é o sucesso internacional”. É aí que algo como a extensão mais recente do universo “Future Nostalgia”, o Studio 2054, vem a calhar. Uma jornada ambiciosa e visualmente deslumbrante pela história da cultura dos clubes, o concerto (com bilhetes abaixo dos US $20) não era apenas um substituto para um concerto ao vivo – era uma ferramenta de marketing inteligente para um artista cujo maior obstáculo é, sem dúvida, nunca conseguir ficar o tempo suficiente no mesmo sítio. Lipa escreveu no Instagram que mais de 5 milhões de pessoas sintonizaram. “Esse é um modelo de negócios totalmente novo que deveríamos ter pensado antes”, diz Mawson. “Há muito trabalho envolvido um concerto deste gênero de apenas uma hora, mas é algo que faremos uma vez por ano, independentemente da tour.” Com os seus planos para uma tour mundial suspensos – a Future Nostalgia Tour foi remarcada para o outono de 2021 – Lipa diz que em breve começará a escrever novas músicas e a planear como será o seu próximo álbum. Mas mesmo que esteja a planear outra reinvenção, ela ainda não está pronta para deixar este álbum ir. “Estou em conversações com a minha equipe sobre, mesmo depois de lançar a versão deluxe, voltar a algumas músicas do ‘Future Nostalgia’ e lançá-las como singles e fazer vídeos”, diz. Ainda há muito mais com que nos divertirmos. No mundo de Dua Lipa, a bola de disco continua a girar.


TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DUA LIPA: PORTUGAL


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